Exigem-se Bogalhistas

A publicação da informação económica e financeira relativa ao exercício findo a 30 de junho de 2024 é suficientemente reveladora de um desaire que não encontra fim. É um acumular de gestões amadoras, descuidadas e desconsideradas por parte de dirigentes que nunca tiveram como primeiro e essencial propósito cuidar da família que neles apostou e elegeu.

 

Desde há muitos anos que tenho vindo a lutar para que todos os sócios e adeptos benfiquistas olhem para além das transferências de jogadores, sistemas táticos, golos, faltas, cartões amarelos e vermelhos. O Sport Lisboa e Benfica já se encontra enfermo há muito tempo, diria mesmo desde 1994 quando Jorge de Brito, esse benfiquista de alma e coração, decidiu renunciar por reconhecer que não tinha capacidade para profissionalizar e adaptar a nossa Instituição às inevitáveis necessidades da altura.

 

Se os resultados desportivos podem gozar de determinado grau de incerteza, tal não sucede com a saúde financeira das sociedades desportivas. É exigível que se antecipem prejuízos e se adote um plano para os reduzir, saber em que gorduras cortar, apostar num investimento específico rumo ao sucesso desportivo e, acima de tudo, adotar medidas que jamais coloquem em risco a sustentabilidade da própria Instituição.

Para poder participar nas suas competições, a UEFA impõe que os clubes e sociedades desportivas tenham as contas em dia e limites de dívida para com outros congéneres e terceiros que vai reduzindo à medida que o tempo vai passando. Mas por cá, temos um regulamento de licenciamento da Liga que já se perdeu a conta às vezes que foi violado por várias sociedades desportivas. O nosso futebol vive numa realidade de facilitismo proibitivo. As consequências surgirão.

O Benfica está hoje completamente dependente de receitas (extra)ordinárias da venda de jogadores. Não é porque o “sistema assim o exige”. É porque os dirigentes assim sujeitaram e subjugaram o Benfica desde 2003. E ainda passaram a ter a desfaçatez de comunicar e tentar passar a mensagem, através de terceiros, de que é um orgulho ser “campeão de receitas”. Como se isso enchesse os bolsos dos sócios ou sequer lhes interessasse.

O Benfica aumenta a sua dívida e não ganha no futebol. Se ganhasse, havia debate e discussão mas o mais provável era ninguém ligar à dívida colossal e mortífera (já o escrevi e falei repetidamente). Como não tem vindo a ganhar regularmente (1 liga e 1 supertaça em 3 anos de mandato), há um dia em que as nossas gentes se insurgem. É o dia em que percebem que não se arranja algo que esteja bem.

Nos anos 50, Ferreira Bogalho saneou as contas do clube para poder conseguir tornar desportivamente o Benfica num dos maiores clubes do Mundo. Tudo era transparente e aos sócios só lhes cabia acreditar. Há princípios de gestão básicos e lógicos. Hoje, numa sociedade global, com total acesso a investimento e sob a égide da poderosa marca “BENFICA”, não temos dirigentes sequer com literacia financeira. Pior ainda, sem interesse, amor e devoção Bogalhista.

Ainda mais me entristece saber que não se conseguiu negociar no imediato o treinador que se contratou porque os seus agentes se encontravam ausentes do país. Que raio de mundo é este em que se exige a presença do agente de futebol do treinador benfiquista (que beija o símbolo na sua segunda apresentação) para determinar as condições do contrato com o clube do seu coração?

 João Diogo Manteigas, sócio 12.262

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