Inferno deve Regressar
Felizmente, integro uma geração que viveu intensamente a saudosa catedral. Aquela que acolheu o verdadeiro Inferno da Luz. Uma obra maravilhosamente planeada e esculpida com a contribuição de todos os benfiquistas (sócios, adeptos ou meros simpatizantes), tendo aberto as suas portas ao mundo em 1 de Dezembro de 1954.
Mais tarde, no início dos anos ‘90, iniciou-se o seu lento e imperdoável (na minha visão pessoal) desmembramento. O que foi triste de se ver, por mais que o mundo moderno assim o viesse a exigir. Perdeu-se um espaço de imponência e de terror autêntico para as equipas e seus apoiantes que ali se deslocavam. Desapareceu uma obra e uma marca que mostrava ao mundo o que era o Sport Lisboa e Benfica. Perdeu-se poder.
E isso não foi contemplado no novo Estádio da Luz, por mais que reconheçamos, entre outras excelentes condições, o seu conforto, os lugares personalizados e camarotes corporate com tudo incluído, o 5G e leds que nos arrastam mais para uma relação de consumo dirigido a clientes do que propriamente a sócios. São estratégias mais do que visões.
O problema infraestrutural, salvo melhor opinião, reside no facto de termos reduzido uma enorme diferença que nos marcava tão indelevelmente em relação aos outros. Permitimos que os nossos rivais diretos se aproximassem em receitas e que exista uma fila de espera de 17.359 sócios para entrar na nossa casa. A de todos nós. Um estádio é uma demonstração de força que representa o peso dos associados do Clube.
E é por isto que o Sport Lisboa e Benfica já devia estar com o pensamento focado no Mundial de 2030, a desenvolver planos de acordo com as “Sustainable Infrastructure Guidelines” da UEFA e a falar com a FIFA (organizadora do respetivo mundial) para tentar fontes de financiamento ao abrigo do programa “Forward Development”. Mais tarde chegará a hora de sentar à mesa com o Governo português para perceber a sua expetativa em torno do futuro.
O Real Madrid já terminou a sua obra futurista e o Barcelona vai a caminho com a mente focada em albergar 110 mil pessoas. Num plano clubístico inferior, o “Signal Iduna Park” (Westfalenstadion) do Borussia Dortmund está licenciado para 81.000 pessoas nas competições internas e para 66 mil nas competições internacionais.
O Sport Lisboa e Benfica não pode ficar para trás. Trata-se, em primeiro lugar, de tentar chegar a todos os seus sócios e simpatizantes urgentemente. Para um clube com 327 mil sócios ativos, o atual Estádio é curto. Em segundo lugar, há um nome, uma história e um legado a respeitar. O Inferno deve voltar. Este é mundialmente reconhecido como sendo vermelho e branco.