Unicidade Desportiva

O Sport Lisboa e Benfica tem que ser protegido de qualquer intrusão deste género ou natureza.

Foi notícia há uns dias que o Olympique Lyonnais (Lyon) comunicou uma dívida superior a 500 milhões de euros à Direção Nacional de Controlo e Gestão francesa. À partida, não vai poder contratar jogadores no mercado de Janeiro 2025 e estará sujeito a restrições salariais. Mas a cereja no topo do bolo é a possibilidade de despromoção à 2.ª liga francesa caso não apresente melhorias financeiras até ao final desta temporada 2024-25. O Lyon está, hoje, no 5.º lugar da Ligue 1 com 19 pontos (11.ª jornada).

Gostaria de parabenizar a nossa Liga Portuguesa por executar este tipo de controlo francês. Mas não é possível pois enquanto assistirmos a casos como o Boavista não há licenciamento de sociedades desportivas que valha, nem procedimentos compostos por requisitos cumulativos (incluindo de natureza financeira - 1.2.1 do Manual de Licenciamento de Competições) que sobrevivam ou sustentabilidade económica e financeira que aguente.

O Lyon nasceu em 1950. Não tem comparação com o Glorioso. Longe disso. Mas tem o seu mérito histórico. Entre outros títulos nacionais, tem a particularidade de ter sido heptacampeão francês. Algo que nem o PSG conseguiu com linha de crédito aberta via Qatar, nem o nosso querido Borges Coutinho com 7 ligas (entre Abril de 1969 e Maio de 1977) devido à dupla intromissão do sporting em 1969-70 e 1973-74. E se quisermos aprofundar ao feminino, o Lyon foi campeão 21 vezes desde a criação da Liga em 1974-75 e domina a Champions com 8 títulos desde a sua fundação em 2001-02.

O pedaço de sucesso desportivo dominador interno do Lyon tem um nome: Jean-Michel Aulas, Presidente desde a época 1987-88 até ter chegado a acordo, em dezembro de 2022, com a holding “Eagle Football Holdings LLC” de John Textor. Enquanto Presidente entre as épocas de 2001 a 2008, Aulas aplicou o seguinte modelo em cada época desportiva sustentado num orçamento a rondar 150 milhões de euros: lucrava com a venda de alguns dos seus jogadores mas contratava sempre os dois melhores jogadores da Ligue 1. O objetivo sempre foi claro: ganhar nacionalmente de forma rentável, fazendo dinheiro (não dando prejuízo). Isto é, esqueçam a Champions.

Mas Textor vem do sistema da teoria do equilíbrio competitivo. Dos Estados Unidos, onde reina o franchising, tudo se vende e é negócio. Não há sócios, nem adeptos. Há clientes. É por isso que afirma que o Lyon não será despromovido porque as projeções mostram que o grupo onde o clube francês se insere (Eagle Football Group) tem muito mais dinheiro do que aquele que o próprio clube precisa (100 milhões até final do ano).

Esta teoria não é, nem será tão cedo, replicável no futebol europeu. Textor gere o Lyon da mesma forma que o Molenbeek. Como se todos os clubes fossem só um por terem a mesma acionista maioritária. Não entende o ecossistema desportivo cultural europeu. Textor teima que a fiscalizadora francesa deve olhar para o Lyon inserido num grupo financeiramente relevante com investimentos avultados e que os acionistas não deixarão o grupo falir. Como se fosse possível um bailout como nos USA.

Parece-me que o cowboy vai ter que vender os seus 45% no Crystal Palace para salvar os cofres do Lyon e ainda injetar muitos milhões através do seu grupo económico-financeiro-desportivo. Provavelmente, atletas serão vendidos e o investimento reduzirá. Como trata o futebol com dólares e euros, descapitalizará fundos de outros clubes que sofrerão um retrocesso no seu planeamento, processo e esquematização a curto, médio e longo prazo. Quanto valem desportivamente, então, os multiownerships? Essencialmente, para captar os melhores jogadores, provocando um cartel desportivo ao circularem-nos mais baratos intra-grupo (ex.: Savinho no Troyes – Girona – Manchester City).

O Sport Lisboa e Benfica tem que ser protegido de qualquer intrusão deste género ou natureza. O Glorioso é único. Não é mais um no meio de outros. No máximo, poderá pensar em parcerias estratégicas de capital (vender ações) mas com uma condição: o Clube terá que adquirir antecipadamente mais capital da SAD por um preço justo de mercado a outros sócios por ter direito de preferência.

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